América Latina tem ambiente desafiador para o compliance e exige cada vez mais aperfeiçoamento de métricas

KPIs, tecnologia, pandemia e situação da América Latina no ranking anticorrupção foram os principais assuntos debatidos durante painel do LEC 2021.

Representantes de grandes empresas brasileiras, mexicanas e americanas apresentaram suas métricas para a estruturação de um bom programa de compliance, além de debaterem os desafios e a importância desse tipo de programa na América Latina. O painel “Benchmarking key metrics for a compliance program in Latin America” integrou o segundo dia de palestras do LEC Experience Latam 2021, um evento voltado para profissionais de compliance de todo o mundo. O tema foi debatido por empresas de renome no mercado, como True Auditoria, Pfizer, Grupo Modelo e F&C Consulting Group, que concordaram que o futuro do segmento está atrelado ao investimento de novas tecnologias e a aplicação de métricas eficientes. 

O CEO da True, Waldyr Ceciliano, chamou a atenção para a responsabilidade do profissional de compliance quando a área de atuação é a América Latina, onde os países ocupam posições não tão relevantes no Corruption Perception Index, o mapa mundial da anticorrupção. O Brasil, por exemplo, está na posição de número 94 no ranking, com 38/100 pontos. “Elaborar uma estrutura de compliance aqui é assegurar transparência e confiança à empresa, é trabalhar contra as estatísticas e mostrar que com acompanhamento e métricas é possível mitigar eventuais fraudes e utilizar recursos de forma sustentável”, explica. 

Ceciliano lembra que as KPIs (Key Performance Indicator) são essenciais para o programa de compliance, pois elas são moldadas para cada empresa, de acordo com os seus valores, sua missão e os objetivos a serem atingidos. “A principal recomendação é usar indicadores inteligentes nas KPIs, que sejam específicos, mensuráveis, relevantes,  alcançáveis e que tenham prazo. Não adianta elaborar diversas perguntas das quais você não vai obter resposta ou não há como fazer um comparativo periódico”, ressalta Ceciliano.  

A pandemia da Covid-19 jogou luz sob o profissional de compliance, mostrando a sua importância na gestão clínica a fim de evitar episódios de corrupção e gastos demasiados. O CEO da True, empresa com vasta experiência em compliance de Saúde, explica que tudo no setor mudou após a pandemia. “Tivemos que desenhar novas formas de comparativo, entender, estudar e desenvolver outras KPIs que atendam esse momento. Por exemplo, alguns códigos de conduta de empresas mudaram com a pandemia, bem como determinados prazos de pagamentos. Os hospitais precisam de mais compras emergenciais e novos turnos de trabalho. Tudo isso integra uma forma de nova avaliação”, enfatiza Waldir. 

Tecnologia – Dentre os palestrantes, o incentivo ao investimento em tecnologia foi unanimidade. A diretora de ética e compliance do Grupo Modelo, Mariana Lara, apresentou as novidades tecnológicas da empresa para o aprimoramento das métricas. O grupo tem utilizado inteligência artificial e machine learning para melhorar a coleta e processamento de dados. “Investir em tecnologia para o compliance vai completar a ação dos profissionais. É importante elaborar as perguntas específicas para a sua empresa – vale ressaltar que as perguntas nunca são as mesmas para diferentes empresas – e fazer uso de ferramentas como inteligência artificial e machine learning, que apresentam desempenho específico e são uma forma neutra de obter dados”, explica Mariana. 

A diretora de compliance da Pfizer, Cibele Fernandes, aposta no data analytics como o futuro do compliance, mas lembra que a boa atuação do profissional é essencial. “Não temos muitos recursos para controlar tudo, mas podemos usar os dados para análises e checar as tendências. Se vejo repetição nas questões, isso indica uma ação a ser tomada, um plano de prevenção a ser executado”, diz Fernandes. Mesmo defendendo a implantação de novas tecnologias, ela lembra que a avaliação manual nunca pode ser descartada, e que as empresas precisam de um plano personalizado para alcançar bons resultados. “Não adianta ter um programa extenso, mas sim um que funcione. Na empresa estamos usando muitos dados, verificamos violação de políticas, investigações e alegações comparando períodos. Temos um comitê de compliance que faz essa análise mensalmente e compartilhamos as métricas a cada três meses com a presidência. É uma forma contínua de acompanhamento e comparação”. 

O CEO e fundador da F&C Consulting Group, Fernando Cevallos, foi o moderador do painel. Ele lembra que a América Latina vem passando por importantes mudanças sociais e econômicas, por isso a importância de debater as métricas para essa região. Ele também defende o uso da tecnologia como aliada para o crescimento e fortalecimento do compliance, mas destaca que caso você não tenha acesso a sistemas, é possível fazer de forma simples e manual. “Analise, compare e estruture sua métrica de acordo com a sua necessidade e lembre-se que todos são responsáveis pelo programa de compliance. A América Latina é enorme e poderíamos passar meses discutindo temas que estão acontecendo e as experiências empregadas, mas, o mais importante é treinamento. Você mesmo pode desenvolver o seu sistema de compliance para agregar valor e manter crescimento e sustentabilidade para a empresa”, finaliza Cevallos.